há dias vi outra vez, pela primeira vez, o meu avô.
...não era mesmo o meu avô. foi num restaurante cheio de gente, os nossos amigos ali na mesa, distraídos com uma piada. cheguei-me a ti e disse baixinho: está ali o meu avô. e tu procuraste-o com o olhar, sorriste, passaste a mão pela minha perna e disseste: é muito parecido, sim.
era parecido, sim. o mesmo peso no corpo e o olhar perdido, os mesmos passos pequeninos dos últimos meses. a ausência do sorriso.
desde aquele dia em Dezembro que não chorava. lembro-me dele, muito, mas a saudade nunca mais se materializou em lágrimas.
podia ter vindo cá para fora chorar, mas as lágrimas à chuva molham mais.
3 comentários:
Felizmente ainda fomos a tempo de o fazer sorrir uma última vez, antes de ele se ter despedido...
Um beijo grande,
Parece ser um sinal que o teu avô está bem presente na tua memória e é rapidamente invocado, sem distâncias. Digo isto com um olhar de ânimo, apesar do aparente paradoxo. Naquela dualidade delicada entre o ter de reprimir e o pretender sentir, é doloroso mas não queres e não deve ser esquecido. Desculpa a expressão, ele agora vive em ti e em quem se lembra dele e actua hoje influenciado pela convivência que existiu. Por último, acho muito marcante o facto de escreveres sobre o assunto.
é inevitável que os procuremos, assim, noutras pessoas... Esta busca de parecenças reside na saudade...
E nunca vamos deixar de ter saudades... Eu tenho tantas saudades da minha avó!
Um beijinho
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