1.28.2009

a pessoa perde a dignidade na doença. 
já não basta a doença em si, traiçoeira,  de mansinho,  para apanhar toda a gente desprevenida. não basta a fraqueza no corpo, as dores, a impotência, a depressão. todos os pensamentos terminais. não chegam os vómitos, a falta de apetite, os suores, a febre. ver os outros, os que gostam de nós, no quarto, à volta da cama, à espera que a doença desista. e ela não desiste, a estúpida. não basta ter de deitar cá para fora um "sinto-me melhor" para convencer os outros, os que estão de fora a suster a respiração e com ela as lágrimas. Não basta a porra do sofrimento, a incógnita, os 84 anos, a vida a passar-nos à frente, a mulher, os filhos, os netos. a nossa história. não basta isso tudo, não. a doença não se dá por satisfeita, rouba também a dignidade, o aspecto, o brilho, o sorriso, a independência. 

2 comentários:

macaca grava-por-cima disse...

um abraço muito apertado para ti, amiga

Ti disse...

de facto... *