quis o destino um dia pôr-me frente a frente com a I. já ela tinha vivido tudo isto e eu ainda não tinha feito nada. não nos separa a idade, mas há um fosso enorme entre as nossas vivências o que, às vezes, acho que só nos aproxima.
foi ela das primeiras pessoas que conheci em Dublin. mentira. conheci outras antes, mas dessas não me lembro porque a I foi a primeira pessoa que me recebeu com um sorriso mesmo verdadeiro e a tranquilidade de quem estava como peixe na água numa sala cheia de nacionalidades e cerveja. naquele dia esperei secretamente um dia ser também parte integrante daquela fauna!
não fomos amigas logo, logo. talvez porque ela se sentisse naturalmente afastada de tudo quanto fosse portruguês, enquanto eu procurei durante uns tempos refugiar-me na portugalidade. passou-me rápido quando percebi que falar a mesma língua não basta para criar laços com alguma profundidade...
e foi melhor assim porque a minha amizade com a I acabou por ser muito gradual e natural. Só discordamos em relação a tudo o que é português porque eu, por mais que tente disfarçar, sou do mais tuga que há e ela repele tudo o que é luso, menos Camões e o Sol. e os Gatos, vá. apartes à parte, e pleonasmos também, a I dizia alto e bom som que nunca seria capaz de viver em Portugal outra vez. causa-lhe arrepios esta mania de passarmos o tempo a queixar-nos, a acomodação e o facilitismo, a escuridão das almas apesar do sol. mas sobretudo, e para ultrapassarr isto, meus caros, é preciso tomates!, não considera os homens portugueses atraentes (???)!
a I tinha a vida que escolheu fora de Portugal. namorados, uma vida social intensa, muitos amigos na Europa toda o que dá imenso jeito nas férias. mas não era feliz profissionalmente. e ainda por cima, tinha um sonho.
um dia ligou-me a avisar que ia deixar tudo e vir para cá para dar forma ao seu projecto. eu tremi e disfarcei a incredulidade.
já cá está, de pedra e cal desde Outubro e hoje, pela primeira vez, disse-me que estava em baixo e se sentia sozinha.
sei que vai passar, e que tudo correrá pelo melhor mal o sol apareça outra vez. mas mesmo que isso não aconteça tens em ti a força para revolver o mundo. e mais importante que tudo, é teres tentado. arriscaste - isso não é nada português - e nesse aspecto, és uma inspiração!
força :)
2 comentários:
Se calhar estou é cada vez mais portuguesa, até já ando por aí a lamentar-me..
beijo, obrigada
Fazem falta pessoas assim! Faz-me falta ser, um pouco, assim!
Enviar um comentário