6.28.2010

:: et tout d'un coup...

o que é que determina que, àquela hora, naquela bifurcação, o sol ofusque a luz certa de um semáforo e ilumine a errada?

o que é que faz um pé apressado carregar num acelerador para passar antes que um semáforo feche?

e quem é que determina a fracção de segundos que separa dois carros num cruzamento,

e coloca no cérebro de um condutor o reflexo certo para guinar o volante?

quem decide se a via da direita estará vazia para receber um carro que se desvia do outro?

e como é que todos estes incidentes se encadeiam para provocar e, de repente, prevenir o caos? o que é que determina que aquela hora - 19.35 - ainda não tenha sido a minha hora?

5 comentários:

fd disse...

A sorte, o pensamento, a obediência dos músculos, os nossos e dos outros, os elementos, as máquinas, o contexto, a aleatoriedade a nível atómico… Ainda bem que não foi.

jonah disse...

ainda bem, foi o que pensei... mas se é acaso, é tão aleatório, como dizes. pode voltar a acontecer amanhã. será acaso?

fd disse...

O "tão" (aleatório) acaba por resumir-se às estatísticas (os números nunca serviram para retratar bem tragédias humanas)… e ao grau de controlo que podemos exercer, normalmente percebido (exagerado ou minimizado) de forma distinta da real.

Para viver precisamos de uma espécie de sentimento de invulnerabilidade, relativamente "falso", ilustrado naquelas sensações que se vão instalando invisivelmente (“os problemas só acontecem aos outros”, “vou viver para sempre”). Por exemplo, quando ficamos doentes sem previsão de melhorias (ou mesmo com), perdemos essa segurança e os medos começam a correr, às vezes perdendo-se o sentido da vida perante a constatação de efemeridade.

Também precisamos do sentimento de previsibilidade, uma das razões para fazermos planos (para termos controlo ou ilusão deste) e contratos, ou confiarmos/contribuirmos para a organização da sociedade ou ainda recorrermos a entidades supremas.

Quando esses sentimentos se perdem, parece que ficamos sem alguns dos nossos alicerces. A distância ao surreal, non sense e epifanias fica encurtado, como acontece nas guerras, catástrofes ou sociedades em que a luta pela sobrevivência é constante. Os referenciais alteram-se e podem já não voltar ao sítio anterior.

Acho que era n’A Lista de Schindler, que o director do campo de concentração disparava, da sua varanda, aleatoriamente sobre os judeus, por “diversão” ou “irritação”. Os prisioneiros, individualmente, tentavam desesperadamente encontrar padrões no seu próprio comportamento que justificasse essa actuação e passavam a andar mais devagar, para não chamar as atenções, ou mais depressa para não parecerem preguiçosos, ou sozinhos, ou em grupo, mas a razão, era só… porque sim… ou muito próximo disso. Em situações extremas os porquês estão sempre a surgir.

Espero que um período de momentos de prazer, conforto, seguidos de um confronto gradual, com cuidado, de eventuais medos permitam mudar percepções para uma maior confiança, mesmo que se saiba que funcionamos assim. Vá, temos de continuar por cá, com saúde, para se aproveitar.

macaca grava-por-cima disse...

Estás bem?

jonah disse...

I'm good, I'm good.... mas foi por pouco, irra! :)