outro dia, por acaso, [tão por acaso que até foi no metro] numa conversa nada circunstancial, perguntou-me
e gostas do que fazes?
[as pessoas de toda a vida não fazem perguntas incómodas e não é por uma questão de sensibilidade. é porque nos conhecem de trás para a frente. mas os encontros por acaso provocam perguntas destas.]
talvez tenha desconversado. tenho vergonha de dizer que não gosto do que faço. é que não tenho certeza se não gosto [tem dias] e pagam-me bem. sei que isto não se diz aos outros e evita-se sentir. o raio da pergunta pôs-me a pensar. são mais os dias que não gosto, porra. mas pagam bem.
a inevitabilidade dos 30 traz-me esta necessidade, tão irónica meu deus!, de pôr em causa certas escolhas. e não podia haver idade mais imprópria. talvez até já tenha escrito sobre isto [a idade também me permite começar a repetir-me] sobre a janela de opções que se fecha à medida que o meu tempo se fecha também. e sobre o sufoco que trago na nuca por causa disso. é tão minha esta pretensão de pôr as coisinhas todas na sua devida caixinha. de achar que percebo o mundo e as pessoas até cair desta minha teatral superioridade sempre que vejo que não me conheço sequer a mim já com três décadas de convivência comigo própria.
descobri muito recentemente que tive uma adolescência tardia. a minha aconteceu aos 30.
1 comentário:
E o dilema posto pelo "mas pagam bem"? O custo pessoal do "mas pagam bem", o peso, a prisão que representam... Não falo por mim, obviamente. Mas conheço de perto essa situação.
P.S. - quanto à recente adolescência (afinal tens 30 há menos de 6 meses...), fizeste-me lembrar de certas raças de cães (e indíviduos específicos dentro delas): têm infâncias que duram até à meia-idade. Deve ser de família. ;)
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