2.09.2010

::toujours, hier

há dias vi outra vez, pela primeira vez, o meu avô.

...não era mesmo o meu avô. foi num restaurante cheio de gente, os nossos amigos ali na mesa, distraídos com uma piada. cheguei-me a ti e disse baixinho: está ali o meu avô. e tu procuraste-o com o olhar, sorriste, passaste a mão pela minha perna e disseste: é muito parecido, sim. 

era parecido, sim. o mesmo peso no corpo e o olhar perdido, os mesmos passos pequeninos dos últimos meses. a ausência do sorriso.

desde aquele dia em Dezembro que não chorava. lembro-me dele, muito,  mas a saudade nunca mais se materializou em lágrimas.

podia ter vindo cá para fora chorar, mas as lágrimas à chuva molham mais.

3 comentários:

Anónimo disse...

Felizmente ainda fomos a tempo de o fazer sorrir uma última vez, antes de ele se ter despedido...

Um beijo grande,

fd disse...

Parece ser um sinal que o teu avô está bem presente na tua memória e é rapidamente invocado, sem distâncias. Digo isto com um olhar de ânimo, apesar do aparente paradoxo. Naquela dualidade delicada entre o ter de reprimir e o pretender sentir, é doloroso mas não queres e não deve ser esquecido. Desculpa a expressão, ele agora vive em ti e em quem se lembra dele e actua hoje influenciado pela convivência que existiu. Por último, acho muito marcante o facto de escreveres sobre o assunto.

macaca grava-por-cima disse...

é inevitável que os procuremos, assim, noutras pessoas... Esta busca de parecenças reside na saudade...
E nunca vamos deixar de ter saudades... Eu tenho tantas saudades da minha avó!

Um beijinho